Prever o futuro no mercado de trabalho tem se mostrado uma tarefa praticamente impossível. Inovações tecnológicas, organizacionais e constantes mudanças no cenário econômico fazem com que áreas até então promissoras percam espaço rapidamente para outras antes desvalorizadas. No entanto, independentemente do cenário que o profissional vai encontrar, especialistas são unânimes em citar a importância dos primeiros anos da carreira para a concretização de uma trajetória sólida.
"O sucesso é resultado de um conjunto de escolhas. O jovem que está saindo da graduação e começando a abraçar uma carreira tem que, antes de qualquer coisa, descobrir aquilo que gosta, o que o faz vibrar", diz Irene Azevedo, professora de gestão de pessoas da BBS Business School e diretora de negócios da LHH/DBM.
Segundo Irene, essa é a época de arriscar. "Aos vinte e poucos anos é possível experimentar áreas e competências. Melhor errar nessa fase, que errar a vida toda." Irene, que foi gestora durante 24 anos na IBM Brasil, consultora de recursos humanos na Ticket e gerente na KPMG, destaca também a importância dos cursos rápidos, como os de extensão, além dos programas de trainees. "São fundamentais para conhecer funções, culturas empresariais e fazer contatos."
Darcio Crespi, sócio da Heidrick & Struggles, ressalta que o período logo após a faculdade é o mais indicado para testar aquilo que se aprendeu em áreas diferentes da graduação. Avaliar oportunidades e competências, no entanto, é bem diferente de ficar pulando de galho em galho. "Isso só atrapalha. É preciso eleger um campo de ação dentro de uma escolha maior, feita na graduação".
Na opinião de Crespi, o mais importante é o jovem ter certeza da carreira escolhida. Para exemplificar, ele conta a história de quando foi contratado por um grande hospital de São Paulo para escolher o novo presidente. "Cheguei a um executivo de uma das maiores empresas de seguro-saúde do Brasil. Quando ele foi entrevistado e soube para onde era a vaga, desistiu. O curioso é que ele era médico e disse odiar hospitais. Eu imaginei como o curso de medicina deve ter sido conflituoso para ele."
Histórias como essa, de dúvidas ou derrapagens na carreira, estão longe de serem casos raros. Segundo estudo do Instituto Lore, consultoria americana de desenvolvimento profissional, a taxa de executivos de alto potencial cuja carreira saiu do trilho em relação à trajetória anteriormente planejada está entre 33% e 66%.
Para Van Marchetti, diretora da Attitude Plan e professora do Senac SP e do MBA da Universidade São Francisco (USF), a escolha do curso superior deve ser planejada em família. "Nesse momento é muito importante a participação e não a decisão dos pais. Perguntas, mesmo que aparentemente pueris, como o que quer ser, o que gosta de fazer e onde quer estar daqui a alguns anos podem ajudar bastante."
Na sua opinião, o autoconhecimento é de grande valia nesse momento e um teste vocacional pode ajudar. "Ele talvez não seja infalível, mas certamente será um bom orientador quanto à área de atuação mais condizente com o perfil", afirma.
Jaqueline Silveira, gestora de carreiras do Ibmec/MG, não recomenda que os cursos complementares e de especialização muito longos sejam feitos imediatamente após a graduação. Isso porque já foi dado um passo importante do ponto de vista acadêmico e a hora, agora, é de testar a empregabilidade. A consultora recomenda projetos de intercâmbio, processo de trainees e estágios. São nesses últimos que o profissional irá conferir competências, pontos fortes e fazer contatos.
Ente os cursos em alta, ela cita os que garantem certificações em línguas, administração ou recursos humanos. São mais baratos que as pós-graduações e MBAs, que podem ser feitos depois, quando a carreira estiver mais estabilizada.
Crespi, da Heidrick & Struggles, destaca que o MBA é importante para o executivo mais experiente e com uma vida profissional mais clara. "É um curso baseado na troca de experiências. Fundamental, mas desaconselhado para quem ainda está começando".
Desse modo, para quem já está no mercado e pensa em crescer profissionalmente, Van Marchetti, da Attitude Plan, sugere perguntar a si mesmo se está surpreendendo o empregador, entregando mais que o esperado, antes de cobrar um reconhecimento. "Crie uma lista com o que você faz de melhor tecnicamente e quais são as suas habilidades comportamentais. Desenvolver a oratória também é fundamental", diz. Ela ressalta que quem fez um curso de graduação muito técnico e está almejando um cargo de gestão, por exemplo, precisa buscar uma complementação em áreas como liderança.
Já aos mais jovens, a recomendação é se aprofundar nas oportunidades de emprego que surgirem, como o estágio. "É preciso não apenas atender às expectativas da gestão, mas superá-las."
Experiência na universidade ajuda jovem a decidir melhor
Aos 22 anos e aluno do sétimo período de administração do Ibmec/MG, Gustavo Jardim tem seguido à risca as dicas que recebeu da área de gestão de carreiras da escola. "Tento participar de monitorias e estou sempre atento a estágios e programas de trainees", afirma. Hoje, ele trabalha como estagiário no Instituto Áquila, especializado em soluções de gestão. A empresa busca anualmente graduandos em engenharias, administração, ciências contábeis, comércio exterior, economia e tecnologia da informação e paga um salário médio de cerca de R$ 4 mil. Recentemente, Jardim foi aprovado para estágio na Ceva Logistics e agora decide se fará os dois.
Seu colega de classe, Luciano Hanum Albuquerque optou por fazer programas de intercâmbio para estudar línguas e realizar algum curso que garanta certificação. Sua escolha foi trancar um semestre da escola para estudar na Irlanda e aperfeiçoar o inglês. Albuquerque foi diretor de projetos na Ibmex Consultoria Empresarial Jr., empresa júnior que proporciona experiência profissional aos alunos do Ibmec. Também aproveita a estadia no exterior para refletir e definir o que exatamente quer da carreira.
Aos 30 anos, Kairalah Saade é gestor na AGV Logística, onde comanda uma equipe com mais de 30 colaboradores. "Desde que entrei na empresa, coordenei projetos de redução de custos, implementação de novos processos e avaliação de investimentos", conta. No início da vida profissional, Saade fez vários cursos que o ajudaram a definir competências, pontos fortes e fracos. Nesse período, trabalhou nas companhias Covabra, Howden South America e Atric.
Com a carreira mais estabelecida, optou pelo MBA de gestão estratégica de negócios na Universidade São Francisco (USF). "Aprendi que cada pessoa tem uma personalidade. Se o gestor entender isso, poderá prever a melhor função para um determinado colaborador, que vai trabalhar mais motivado e, consecutivamente, trazer melhores resultados", afirma.
De acordo com especialistas, entre os cursos breves recomendados aos jovens profissionais alguns já ganham destaque nas grandes escolas de negócios do mundo. Tanto em matérias obrigatórias como optativas, questões como energia e risco climático vêm conquistando espaço.
Na escola de negócios Judge, da Universidade de Cambridge, por exemplo, existe uma grande concentração de disciplinas ligadas à energia e meio ambiente. Já em Tuck, do Dartmouth College, há uma disciplina optativa de administração e mudanças climáticas que abrange conteúdo relativo às implicações da legislação ligada à energia - como os impostos de emissão de gás carbônico e determinações referentes à energia renovável. Já o Massachusetts Institute of Technology (MIT) fundou a divisão de sistemas de engenharia para abordar problemas misturando conceitos de engenharia, gestão e ciências sociais. (ACL)